Este texto foi escrito logo após o final das eleições de 2014, foi postado em 27/10/14. Naquele momento lembro que resolvi ter um momento de reflexão sobre o que estava acontecendo no nosso país. Então foi natural acabar escrevendo o que pensava fazer mais sentido. Gosto muito do que saiu, e tive alguns bons feedbacks incluindo um grande elogio de um professor de filosofia.Dia 28 de agosto (2014), ao final da partida de futebol entre Grêmio e Santos o assunto mais comentado não era o resultado e sim um triste acontecimento. No decorrer do jogo parte da torcida gremista almejou gritos de raiva, desprezo, racismo… O ato ganhou um rosto, o de Patrícia Moreira, mas sua vida não teve a mesma sorte, foi jogada no lixo. O azar que ela levou ao ser focada pelas câmeras de televisão lhe renderam ameaças de estupro, morte, entre várias outras coisas que convenhamos não eram necessários. Sua casa foi depredada e seu dia-a-dia dificilmente será o mesmo. Este é o povo brasileiro? É assim que ele age? Sabemos que foi um preço muito alto a ser cobrado dela pelo ato de vários torcedores.
Algum tempo se passou e chegamos ao período eleitoral. Tivemos dois candidatos que trouxeram nas suas ideias algumas discussões que mais cedo ou mais tarde se fará presente novamente, e de certa forma vejo elas como caminhos naturais que tendem a ser seguidos.
A ideia que gostaria de comentar é a criminalização da homofobia, acho essencial algo assim ser debatido a partir dos direitos humanos e nos direitos previstos na constituição. Pergunto-te: você conhece algum gay, agora me diga se ele é menos humano que você apenas por isso? É motivo pra sair escandalizando e pedindo socorro? Não! Sabemos que estamos juntos na sociedade e convivemos bem, isso na maioria dos casos porque existem algumas pessoas que por algum motivo não conseguem conviver com ideias diferentes e partem pra ignorância, ofensa e em casos extremos até a agressão física. Comentei isso para passar o retrato do que eu enxerguei nessas eleições. Podemos considerar a homofobia como uma forma de racismo e como forma de violência ao outro e seus direitos, o resultado desse tipo de atitude levou a humanidade á capítulos nefastos de história, mas vamos chamar estes casos e outros desse gênero apenas como “preconceito”.
Voltando um pouco na história do Brasil, vemos que quase sempre o presidente vem de classes sociais favorecidas pela abundância de riquezas. Da TV ainda de quando criança vem lembranças embaraçosas de reportagens sobre a fome, a miséria, a desigualdade, eu nem sabia muito bem o que significava. Uma pesquisa rápida por reportagens da época mostra o desinteresse em mudar este cenário brasileiro, era um quem tem, tem, quem não tem, não me importa. Foi então que alguém considerado normal pelo povo e “anarfa” pelos “ricos” chegou à presidência.
Luiz Inácio Lula da Silva, o cara que tem um dedo a menos e pelas palavras de um amigo, o maior presidente que o Brasil já teve e um dos maiores que o mundo já conheceu. O que ele fez? Entre várias coisas vou falar que ele tirou o país do mapa da fome. Isso pode não ter mudado a minha vida, talvez não a sua, mas para ter uma ideia do tamanho da mudança compare um simples mapa de IDH-M do Brasil em 2000 e em 2010. Se antes não havia como fazer isso, depois que alguém do povo chegou lá, uma maneira foi encontrada.
Retornando ao preconceito, Lula carregou um monte deles e a maioria vinha dos mais ricos. De não saber falar inglês ao fato de apreciar uma cachaça de vez em quando, por ser um trabalhador das metalúrgicas paulistas. Cachaceiro! É isso que alguns falam sobre ele, mas uma cena de embriaguez e Lula juntos eu recordo apenas a que tinha Vampeta junto em 2002. Comentei isso porque temos um candidato que se negou a fazer o famoso teste do bafômetro, existe um vídeo que circula na internet mostrando que sóbrio não era exatamente o estado dele. Podia cometer acidentes, tirar a vida de outras pessoas como já aconteceu com aliados políticos dele no Paraná, o caso do ex-deputado Fernando Ribas Carli Filho que embriagado provocou um grave acidente que matou dois jovens em Curitiba e ainda não foi a julgamento, mas nada se comenta. É como se o fato dele ser “rico” e não do povo tirasse todo o preconceito e pré-julgamento que poderia ocorrer.
Numa outra instância, os protestos no Brasil no ano passado tiveram muito vandalismo esse fato é visto por muitos como motivo para votar num partido, nestes casos os que usaram este argumento para decidir seu voto apontam o acontecimento na sede da editora Abril como um fator de superioridade, de sou melhor que eles, porque voto no outro candidato e não é assim que se faz democracia quando no final das contas os dois fizeram praticamente a mesma coisa. Os ideais das duas situações eram praticamente os mesmos, defender alguma linha de raciocínio, a diferença é que o primeiro é usado por muitos como uma liberdade de expressão, de lutar por um ideal, contra ideias políticas, um movimento apartidário e desunido que "depredou" sem apontar culpados, o segundo leva a mesma intenção, mas o foco da "revolta" seria apenas um e apesar de não ser diretamente, ataca uma ideia política contrária.
Sempre estudei em escolas públicas e ela me forneceu os conhecimentos básicos que me serviram de base até chegar à universidade pública, pude criar e aproveitar minha oportunidade, entrei lá e me formarei assim como quem talvez investiu em escolas particulares por toda vida, sairemos de lá com a mesma graduação, iguais. Mas esse período eleitoral mostrou que talvez alguns não gostem disso, após declarar minha decisão de voto, comecei a sentir um certo desprezo de algumas pessoas, porque parecia que “eles” eram “melhores” por decidir votar num candidato diferente. Era o sentimento que eu tinha, que o outro se achava superior por não votar no mesmo candidato. No Facebook mesmo foi um festival de bloqueios apenas por tentar discutir ideias.
Vivemos num Brasil que é assim, onde os mais “ricos” são mais miseráveis que os pobres, se preocupam mais com 70 reais que não está no bolso deles do que aqueles 70 reais que podem estar matando a fome, salvando vidas e melhorando a saúde. Não aceitam a distribuição de renda e se pudessem, não acho impossível, derrubariam a lei Áurea, certamente fundariam uma nova escravatura um pouco disfarçada.
Estes são os nossos “ricos”, não gostam de ver os menos favorecidos lutando e conseguindo com muito custo as suas coisas. O Brasil do patrão não gosta de saber que seu empregado vai viajar nas férias e considera esta situação uma tremenda inversão de valores. Dos patrões que ficam com o pé atrás quando sua empregada aparece com um celular novo ou ao curioso caso de hostilidade ao ver que uma pessoa “pobre” estava no aeroporto para viajar. O Brasil do sudeste apontando o dedo e afirmando que o norte e nordeste não sabem votar, mas quando pegamos os paulistas mais votados temos dois casos no mínimo curiosos. A nação que esquece a importância do mesmo nordeste na formação econômica brasileira, mas lembra na hora de falar mal. O país onde notícias carimbadas com a etiqueta de falsa são redirecionadas a grupos religiosos como verdadeira e com o intuito de passar uma imagem de ódio e menosprezo.
Enfim, poderia continuar a escrever sobre isso e histórias não faltariam, mas queria apenas deixar registrada esta breve reflexão. Este é o Brasil em que vivemos: um Brasil que mostra uma sociedade que ainda tem muito o que evoluir e que tenta esconder, mas no fundo se revela um país do preconceito e da ignorância.
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