terça-feira, 19 de maio de 2020

Qual é o probrema?

Este texto está num documento do Google Drive datado de 2015. Mas eu lembro que tinha escrito ele durante o embate político de 2014 e curiosamente não foi publicado, ou pelo menos não encontrei.
Nesses últimos dias tenho percebido uma certa intolerância com o jeito que algumas pessoas escrevem, vi pessoas criticando o governo federal enquanto aqui no estado do Paraná, quem cuida das escolas que preparam os alunos para provas que dão acesso ao ensino superior é o governo estadual (que infelizmente demonstra que a educação está longe de ser seu foco, pelo menos é o que aparenta). Vi também severas críticas a alguns alunos que passaram no vestibular com redação zerada, vi inúmeros gritos de “analfabeto” e por aí vai. Querendo ou não isso me chamou atenção e fiz um breve exercício tentando pensar em algumas possibilidades para o que tem ocorrido. 

O primeiro ponto que quero comentar é a forma diferente do brasileiro mesmo falar. Somos um país continental, sim, é claro! Mas não é de comparar um gaúcho com um nordestino falando pra descobrir que eles usam palavras diferentes. Nosso país é marcado pela diferença social aliada ao preconceito. O Rio de Janeiro é a cidade que talvez seja a mais conhecida Brasil, destino de turistas do mundo inteiro, nos fornece uma diferença muito curiosa. A forma com que os mais favorecidos financeiramente falam (o pessoal do Leblon, Niterói e por aí vai, ou você pode até considerar o sotaque visto nas novelas) completamente diferente daquele sotaque que você vê a grande massa falando, os cariocas que podemos chamar de normais, trabalhadores e heróis do dia-a-dia que lutam pelo sustento de sua família.

Isso não é tudo, essa forma diferente de pessoas do mesmo lugar falar sempre foi uma característica nossa, desde que éramos uma colônia. No período da escravidão isso deveria ser imensamente eminente. Mais tarde, após o fim da escravidão, obviamente que aqueles que como posso falar... tinham o poder político, sejam os coronéis, os políticos mesmo ou até mesmo aqueles que se achavam a nata da sociedade. No Brasil os mais ricos, sempre arranjaram uma forma de fazer algo que lhes fizessem sentir-se superior, desde as roupas que usavam até a linguagem que falavam. Assim surgiu o Vossa Senhoria, Vossa Alteza, Vossa Magnificência, Digníssimo, Vossa Majestade e todas essas coisas que particularmente acho muito chato. Creio que tudo isso surgiu apenas como um modo de auto-afirmação, de sou melhor que você e todo aquele negócio preconceituoso que sempre existiu no Brasil. Talvez por isso o "juridiquês", que adota palavras tão incomuns, seja a forma mais escondida dessa diferenciação, afinal tem-se como um pré-conceito que os advogados são das classes mais favorecidas. O fato de tentar falar o mais correto possível sempre fez alguns acharem que são mais que outros e foi assim que surgiu alguns grandes nomes que só vemos no nosso Brasilzão: o Wellington, o Richarlysson, o Wandercleide, o Valdisnei, Neymar e por aí vai. Porque existem esses nomes? Na minha visão isso é meio que simples, porque ter um nome "internacionalizado" é chique, é bonito, parece gente que veio de fora e é rica. 

Outro ponto que queria comentar é o seguinte, por um texto que alguém escreve você consegue perceber se a outra pessoa é inteligente?? Creio que não, não é por ela saber quando usar o gerúndio que você descobre se ela é inteligente, não é por saber a morfossintaxe das palavras que ela é esperta. Sabe conjugar o verbo? Legal camarada, mas e daí? Daí que se você não sabe, você não é burro! Duvido que metade das pessoas que por algum motivo estão lendo este texto lembrem o que é um adverbio ou o que é um período composto por subordinação. Eu não lembro, quem é que lembrar depois de um mês da prova? Garanto que são poucos…

Ainda quero comentar brevemente o fato de estarmos numa língua viva, uma língua em que todo dia surgem palavras novas, palavras de outras línguas que são incorporadas a nossa. Parem com essa burrice, tuitar é um verbo e está no Aurélio, nossa língua muda constantemente, tem que ser muito idiota pra não perceber isso. E outra coisa, o português brasileiro é uma língua totalmente diferente do português falado em Portugal. Falando em Portugal, veja que legal: quando o príncipe Willian vai a Portugal e vai sentar na mesa do seu banquete, adivinha o nome que está escrito nela? Se você pensou Willian você errou, lá está escrito Guilherme. Lá em Portugal o uso de linguagem estrangeira é restringido afim de proteger sua forma de falar. Sim, proteger. E até novelas da Globo os portugueses mais conservadores cogitam em dublar para não correr o risco da população portuguesa perder parte da sua identidade cultural.

Estranho não? 

Então pra finalizar e isso não ficar muito extenso, creio que nunca antes na história da humanidade houve tantas pessoas escrevendo, nunca! Muitas pessoas hoje que tem lá seus 40, 50 anos e estudaram apenas o que era acessível quando criança estão na internet escrevendo e se comunicando com os outros. Faça um breve exercício de lógica: você via mais pessoas errando na hora de escrever quando você abria uma carta endereçada a ti ou hoje onde você publica um breve texto e pode ser lido por centenas? Você vai questionar: mas e essa galera que tem 15, 16 anos e escreve errado? Pois bem, eles são o futuro. A nossa língua é viva e por isso tivemos um acordo ortográfico que aposto que apenas o Brasil está “seguindo” ele. Falando nisso, connfesso que escrever heroi ao invés de herói é meio estranho e não quero mudar isso. A forma que eles usam para se comunicar não pode ser considerada errada, pois linguistas consideram que desde que uma pessoa faça a outra entender aquilo que ela quis dizer, a linguagem utilizada está correta. E se você não entende, paciência. Provavelmente você não seja o público alvo. E vendo por este ângulo, a comunicação que eles usam é extremamente mais prática e eficaz do que longos discursos apenas para escrever/dizer algo relativamente fácil. 

Então se você se acha mais inteligente que alguém apenas pela forma que você fala ou escreve, lembre que nem tudo é perfecto e que você pode estar a trocar alhos por bugalhos.

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