quinta-feira, 6 de outubro de 2022

A opressão nas eleições

Vamos ser bem honestos.

Tem muita gente sendo oprimida pela ideologia de algumas classes que neste atual governo se colocaram como dominantes, como os milicianos, uma galera de uma alta elite da igreja evangélica, empresários a beira da falência, ou uma galera louca para invadir mais e mais da Amazônia, ou de áreas de reserva. E Bolsonaro consegue ser a convergência de todos estes. É essa galera que é racista, homofóbica, machista, xenófoba, intolerante, é essa galera que não quer um país progressista, que se beneficiam do país vivendo em um grande atraso.

É este tipo de gente que resolve fazer campanha política com mentiras, com montagens, com todo tipo de jogo sujo que eles podem. Tudo para evitar que algo mudem e que eles tenham que responder criminalmente pelo que fazem. 

Acredite, eles conseguem atingir muita gente, desde as igrejas com inúmeras casas que ao invés de pregar sobre o seu deus resolvem falar de política, até os vários vídeos de "patrões" ameaçando seus funcionários em caso de voto contrário ao do Bolsonaro. Esse padrão pode nem ter muita coisa, mas conseguiu estar em um grupo que tem alguém mais relevante, que está no grupo de alguém mais relevante... e então ele acaba pensando que também pode fazer algo assim. 

Ah... na história isso era conhecido como o "Voto de Cabresto", algo que era uma forma de comprar votos e que acontecia no nosso país a um século atrás, lembra quando falam de coronelismo? E quem faz isso nem se importa se isso é ou não um crime, pra eles ser um criminoso perante a lei não vale de muita coisa porque eles não tem o mínimo de ética, o mínimo de moral para se importar com isso. Ou ainda, mesmo que ganhe uma multa ou alguma pena que eles podem simplesmente não cumprir, não pagar, ou se pagar é algo tão irrisório que nem pareceu uma punição por um crime.

São estes que conseguem influenciar uma parte do povo, fazer com que eles nem saibam direito o que criticam, não sabem o porque defendem Bolsonaro, não sabem o porque não votam no outro candidato. Os que são atingidos por uma onda de manipulação, com inúmeras fake news criando um mundo que não existe, e que  não medem esforços para tentar detonar todos aqueles que entram em desacordo com o estes manipuladores querem. 

Assim, muita gente acaba defendendo um governo que vai contra os seus próprios princípios, contra os seus próprios interesses. Tudo isso porque em algum momento um bando de iletrados, retrógrados, imorais e criminosos querem continuar sendo as atrocidades que são.



quinta-feira, 21 de julho de 2022

"Virar Venezuela"

É meio chato que alguns ainda acreditem nisso, mas como economista acho importante explicar o porque o Brasil não corre riscos de virar uma Venezuela. Vamos lá.

Primeiramente é importante entender como a crise da Venezuela aconteceu. Você sabe como?

A Venezuela é um dos maiores exportadores de petróleo, e toda a sua economia era baseada nisso. Não existia uma segunda coisa na economia deles para ajudar. Tudo no país dependia do dinheiro que eles faziam com o petróleo, e a elasticidade do preço ou da demanda deles iria impactar muito na aquisição dos bens de consumo, os bens que a população precisava para o dia a dia. E quando eu falo em bens eu estou falando desde a importação de alimentos até roupas, eletros, etc. Quando houve uma mudança repentina no preço e demanda do petróleo que eles produzem, isso ficou insustentável. Não havia dinheiro e não havia um plano B para a economia. E assim a crise que amedronta os desinformados aconteceu.



Vamos trazer este pensamento para o Brasil. Vamos tentar traçar um paralelo. O Brasil não é um país que depende unicamente de uma coisa na economia para estar economicamente bem. Na verdade nós temos grandes espaços vazios, espaços não ocupados da nossa economia, mas temos um setor terciário muito grande e que se ele estiver bem, a economia do país ficará bem.

E ao contrário do que muita gente pensa, nestes últimos anos de governo nós chegamos mais perto da Venezuela como nunca antes tínhamos chegado antes. Desde 2019 nós vimos grandes empresas saindo do país, vimos Ford, Mercedes, Sony, LG e até varejistas como o Wall Mart saindo daqui. Quantas vezes você não escutou lá em 2018 e 2019 o termo "fuga de investidores", quando o dólar começou a subir e o nível de confiabilidade do país a cair? Tanto que em determinado momento vimos a expressão de que o "agro é o que puxa a economia do nosso país". O uso desta frase claramente mostra que tem muita coisa errada na economia interna, pois o Agronegócio brasileiro é um setor que praticamente não depende da economia brasileira, ele depende do preço das commodities que vem lá da bolsa de Chicago, e assim da cotação do dólar. E se você olha as notícias mais atualizadas, vemos que o agro está um tanto sem expectativas de grande crescimento. Imaginem se a China diminui a compra de soja do Brasil, como isso afetaria o nosso agronegócio? 

Mas voltando um pouco, por declarações do ministro da fazenda vimos que falta incentivo a muita coisa que poderia ajudar a nossa economia, que poderia ser um plano B, um plano C, um plano D. Vimos um governo que passou três anos chamando os programas de distribuição de renda de "bolsa esmola", um governo que foi eleito com uma as promessas em acabar com estes auxílios. Programas de distribuição de renda são essenciais para movimentar a economia, principalmente em localidades mais distantes. Eles dão a oportunidade a alguém que não tinha dinheiro fazer compras, e assim dará a oportunidade de alguém vender, e o vendedor precisará comprar mais produtos para vender, a indústria vai precisar produzir mais, para produzir mais a indústria vai precisar contratar mais. É uma das várias formas de fazer a roda da economia girar. Um país com uma boa política de distribuição de renda se beneficia muito disso. 


Mas vimos um governo com números de  desempregos chegando a marcas históricas, vimos um governo que alterou a forma de contabilizar o nível de desempregos para esconder a realidade, colocando na conta também os trabalhadores informais (os bicos, os "freela"). E o que vocês acham que isso quer dizer? A economia está ruim? Quando se fala que o brasileiro perdeu seu poder de compra, não estamos falando apenas de inflação, estamos falando que muita gente perdeu a sua renda e não consegue mais comprar as coisas que precisam. Além do preço da carne de um dos países que mais exportam carne pro mundo ficar bem mais caro, muita gente perdeu a renda que tinha antes, perdeu seu emprego e isso torna mais difícil que ela consiga comprar a carne. 

Ao final das contas, um país que não quer ser uma Venezuela não se vangloria apenas por um setor da economia ir bem. Um país que não quer ser uma Venezuela tem um projeto econômico que não foca apenas em ser o "quintal" do mundo, é um país que vai muito além de agricultura, pecuária e extrativismo. 


Um país que não quer ser uma Venezuela tem investimentos em diversos âmbitos, seja na indústria automobilística, têxtil, alimentícia, de bebidas, indústria química e petroquímica, um país que pensa tanto na indústria de tecnologias e também incentiva a construção civil, um país que investe na saúde e na educação para ter uma população capacitada a trabalhar em todos estes âmbitos. 

Mas não apenas neles, precisamos falar do setor que abrange o destino final de tudo isso, que posso resumir em "varejo e serviços". Tudo o que é produzido precisa ser comercializado, deve estar a venda e numa economia de vento em poupa, o nível de desemprego não é alto e os trabalhadores tem dinheiro o suficiente para ir ao comércio, e também ao setor de serviços. O setor de serviços engloba muita coisa, muita mesmo. Vai desde serviços de transporte, frete, advogados, clínicas médicas, restaurantes, comerciantes, turismo, eletricistas e encanadores, serviços de entretenimento e cultura, finanças... Tudo isso também faz parte da economia e merece a atenção do governo para que exista uma estrutura para a economia ir bem. Tudo precisa da atenção para não corrermos os mesmos riscos de que nosso país vizinho esteve exposto. 


Apenas para finalizar, um governo que se diz fazer tudo por um único setor da economia e que como comentei, é um setor que não depende do governo para sobreviver. Este governo apenas estampa que pouco se importa com os vários outros setores da economia, e que está muito mais próximo de ser uma Venezuela do que ele alega não estar.

terça-feira, 14 de junho de 2022

A parábola do taxista - a dura vida dos ateus em um Brasil cada vez mais evangélico

O diálogo aconteceu entre uma jornalista e um taxista na última sexta-feira. Ela entrou no táxi do ponto do Shopping Villa Lobos, em São Paulo, por volta das 19h30. Como estava escuro demais para ler o jornal, como ela sempre faz, puxou conversa com o motorista de táxi, como ela nunca faz. Falaram do trânsito (inevitável em São Paulo) que, naquela sexta-feira chuvosa e às vésperas de um feriadão, contra todos os prognósticos, estava bom. Depois, outro taxista emparelhou o carro na Pedroso de Moraes para pedir um “Bom Ar” emprestado ao colega, porque tinha carregado um passageiro “com cheiro de jaula”. Continuaram, e ela comentou que trabalharia no feriado. Ele perguntou o que ela fazia. “Sou jornalista”, ela disse. E ele: “Eu quero muito melhorar o meu português. Estudei, mas escrevo tudo errado”. Ele era jovem, menos de 30 anos. “O melhor jeito de melhorar o português é lendo”, ela sugeriu. “Eu estou lendo mais agora, já li quatro livros neste ano. Para quem não lia nada...”, ele contou. “O importante é ler o que você gosta”, ela estimulou. “O que eu quero agora é ler a Bíblia”. Foi neste ponto que o diálogo conquistou o direito a seguir com travessões.

- Você é evangélico? – ela perguntou.
- Sou! – ele respondeu, animado.
- De que igreja?
- Tenho ido na Novidade de Vida. Mas já fui na Bola de Neve.
- Da Novidade de Vida eu nunca tinha ouvido falar, mas já li matérias sobre a Bola de Neve. É bacana a Novidade de Vida?
- Tou gostando muito. A Bola de Neve também é bem legal. De vez em quando eu vou lá.
- Legal.
- De que religião você é?
- Eu não tenho religião. Sou ateia.
- Deus me livre! Vai lá na Bola de Neve.
- Não, eu não sou religiosa. Sou ateia.
- Deus me livre!
- Engraçado isso. Eu respeito a sua escolha, mas você não respeita a minha.
- (riso nervoso).
- Eu sou uma pessoa decente, honesta, trato as pessoas com respeito, trabalho duro e tento fazer a minha parte para o mundo ser um lugar melhor. Por que eu seria pior por não ter uma fé?
- Por que as boas ações não salvam.
- Não?
- Só Jesus salva. Se você não aceitar Jesus, não será salva.
- Mas eu não quero ser salva.
- Deus me livre!
- Eu não acredito em salvação. Acredito em viver cada dia da melhor forma possível.
- Acho que você é espírita.
- Não, já disse a você. Sou ateia.
- É que Jesus não te pegou ainda. Mas ele vai pegar.
- Olha, sinceramente, acho difícil que Jesus vá me pegar. Mas sabe o que eu acho curioso? Que eu não queira tirar a sua fé, mas você queira tirar a minha não fé. Eu não acho que você seja pior do que eu por ser evangélico, mas você parece achar que é melhor do que eu porque é evangélico. Não era Jesus que pregava a tolerância?
- É, talvez seja melhor a gente mudar de assunto...

O taxista estava confuso. A passageira era ateia, mas parecia do bem. Era tranquila, doce e divertida. Mas ele fora doutrinado para acreditar que um ateu é uma espécie de Satanás. Como resolver esse impasse? (Talvez ele tenha lembrado, naquele momento, que o pastor avisara que o diabo assumia formas muito sedutoras para roubar a alma dos crentes. Mas, como não dá para ler pensamentos, só é possível afirmar que o taxista parecia viver um embate interno: ele não conseguia se convencer de que a mulher que agora falava sobre o cartão do banco que tinha perdido era a personificação do mal.)

Chegaram ao destino depois de mais algumas conversas corriqueiras. Ao se despedir, ela agradeceu a corrida e desejou a ele um bom fim de semana e uma boa noite. Ele retribuiu. E então, não conseguiu conter-se:

- Veja se aparece lá na igreja! – gritou, quando ela abria a porta.
- Veja se vira ateu! – ela retribuiu, bem humorada, antes de fechá-la.
Ainda deu tempo de ouvir uma risada nervosa. 

A parábola do taxista me faz pensar em como a vida dos ateus poderá ser dura num Brasil cada vez mais evangélico – ou cada vez mais neopentecostal, já que é esta a característica das igrejas evangélicas que mais crescem. O catolicismo – no mundo contemporâneo, bem sublinhado – mantém uma relação de tolerância com o ateísmo. Por várias razões. Entre elas, a de que é possível ser católico – e não praticante. O fato de você não frequentar a igreja nem pagar o dízimo não chama maior atenção no Brasil católico nem condena ninguém ao inferno. Outra razão importante é que o catolicismo está disseminado na cultura, entrelaçado a uma forma de ver o mundo que influencia inclusive os ateus. Ser ateu num país de maioria católica nunca ameaçou a convivência entre os vizinhos. Ou entre taxistas e passageiros.

Já com os evangélicos neopentecostais, caso das inúmeras igrejas que se multiplicam com nomes cada vez mais imaginativos pelas esquinas das grandes e das pequenas cidades, pelos sertões e pela floresta amazônica, o caso é diferente. E não faço aqui nenhum juízo de valor sobre a fé católica ou a dos neopentecostais. Cada um tem o direito de professar a fé que quiser – assim como a sua não fé. Meu interesse é tentar compreender como essa porção cada vez mais numerosa do país está mudando o modo de ver o mundo e o modo de se relacionar com a cultura. Está mudando a forma de ser brasileiro.

Por que os ateus são uma ameaça às novas denominações evangélicas? Porque as neopentecostais – e não falo aqui nenhuma novidade – são constituídas no modo capitalista. Regidas, portanto, pelas leis de mercado. Por isso, nessas novas igrejas, não há como ser um evangélico não praticante. É possível, como o taxista exemplifica muito bem, pular de uma para outra, como um consumidor diante de vitrines que tentam seduzi-lo a entrar na loja pelo brilho de suas ofertas. Essa dificuldade de “fidelizar um fiel”, ao gerir a igreja como um modelo de negócio, obriga as neopentecostais a uma disputa de mercado cada vez mais agressiva e também a buscar fatias ainda inexploradas. É preciso que os fiéis estejam dentro das igrejas – e elas estão sempre de portas abertas – para consumir um dos muitos produtos milagrosos ou para serem consumidos por doações em dinheiro ou em espécie. O templo é um shopping da fé, com as vantagens e as desvantagens que isso implica.

É também por essa razão que a Igreja Católica, que em períodos de sua longa história atraiu fiéis com ossos de santos e passes para o céu, vive hoje o dilema de ser ameaçada pela vulgaridade das relações capitalistas numa fé de mercado. Dilema que procura resolver de uma maneira bastante inteligente, ao manter a salvo a tradição que tem lhe garantido poder e influência há dois mil anos, mas ao mesmo tempo estimular sua versão de mercado, encarnada pelos carismáticos. Como uma espécie de vanguarda, que contém o avanço das tropas “inimigas” lá na frente sem comprometer a integridade do exército que se mantém mais atrás, padres pop star como Marcelo Rossi e movimentos como a Canção Nova têm sido estratégicos para reduzir a sangria de fiéis para as neopentecostais. Não fosse esse tipo de abordagem mais agressiva e possivelmente já existiria uma porção ainda maior de evangélicos no país.

Tudo indica que a parábola do taxista se tornará cada vez mais frequente nas ruas do Brasil – em novas e ferozes versões. Afinal, não há nada mais ameaçador para o mercado do que quem está fora do mercado por convicção. E quem está fora do mercado da fé? Os ateus. É possível convencer um católico, um espírita ou um umbandista a mudar de religião. Mas é bem mais difícil – quando não impossível – converter um ateu. Para quem não acredita na existência de Deus, qualquer produto religioso, seja ele material, como um travesseiro que cura doenças, ou subjetivo, como o conforto da vida eterna, não tem qualquer apelo. Seria como vender gelo para um esquimó.

Tenho muitos amigos ateus. E eles me contam que têm evitado se apresentar dessa maneira porque a reação é cada vez mais hostil. Por enquanto, a reação é como a do taxista: “Deus me livre!”. Mas percebem que o cerco se aperta e, a qualquer momento, temem que alguém possa empunhar um punhado de dentes de alho diante deles ou iniciar um exorcismo ali mesmo, no sinal fechado ou na padaria da esquina. Acuados, têm preferido declarar-se “agnósticos”. Com sorte, parte dos crentes pode ficar em dúvida e pensar que é alguma igreja nova.

Já conhecia a “Bola de Neve” (ou “Bola de Neve Church, para os íntimos”, como diz o seu site), mas nunca tinha ouvido falar da “Novidade de Vida”. Busquei o site da igreja na internet. Na página de abertura, me deparei com uma preleção intitulada: “O perigo da tolerância”. O texto fala sobre as famílias, afirma que Deus não é tolerante e incita os fiéis a não tolerar o que não venha de Deus. Tolerar “coisas erradas” é o mesmo que “criar demônios de estimação”. Entre as muitas frases exemplares, uma se destaca: “Hoje em dia, o mal da sociedade tem sido a Tolerância (em negrito e em maiúscula)”. Deus me livre!, um ateu talvez tenha vontade de dizer. Mas nem esse conforto lhe resta.

Ainda que o crescimento evangélico no Brasil venha sendo investigado tanto pela academia como pelo jornalismo, é pouco para a profundidade das mudanças que tem trazido à vida cotidiana do país. As transformações no modo de ser brasileiro talvez sejam maiores do que possa parecer à primeira vista. Talvez estejam alterando o “homem cordial” – não no sentido estrito conferido por Sérgio Buarque de Holanda, mas no sentido atribuído pelo senso comum.

Me arriscaria a dizer que a liberdade de credo – e, portanto, também de não credo – determinada pela Constituição está sendo solapada na prática do dia a dia. Não deixa de ser curioso que, no século XXI, ser ateu volte a ter um conteúdo revolucionário. Mas, depois que Sarah Sheeva, uma das filhas de Pepeu Gomes e Baby do Brasil, passou a pastorear mulheres virgens – ou com vontade de voltar a ser – em busca de príncipes encantados, na “Igreja Celular Internacional”, nada mais me surpreende.

Se Deus existe, que nos livre de sermos obrigados a acreditar nele.


Texto do site da revista epoca escrito por ELIANE BRUM.
Post movido de um outro blog meu, postado originalmente em 15/11/20211.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

O PLANETA DAS BARATAS

Repost do blog do Flávio Gomes pela simples concordância.

     Sou um interessado observador de baratas. Elas são nojentas, asquerosas e purulentas, delas chego a ter medo, mas admiro sua agilidade e destemor diante de adversários tão hostis e bem maiores. Dizem que no dia em que o planeta se dizimar de vez numa nuvem radiativa, só vão sobrar as baratas.
     Talvez seja melhor. Não há notícias, no mundo das baratas, de semelhantes se trucidarem por nada. Talvez porque elas não tenham nada na cabeça, não sei sequer se têm cabeça. Baratas não se matam. São uma espécie bem-sucedida, como os pernilongos, as lacraias e as mocréias, que vivem em paz sem maiores sobressaltos.
     Os animais, quando se matam, o fazem por causas bastante razoáveis. Ou para comer, ou para se defender. Eles não odeiam os outros animais. São indiferentes aos sentimentos das moscas, das pulgas ou dos gnus. Têm seus instintos, suas próprias leis, e vão levando a vida através dos séculos.
     O homem, não. É um fracasso como espécie animal. É capaz das maiores façanhas tecnológicas, de ir à lua e clonar gente, mas incapaz de estabelecer regras de convivência que deveriam fazer parte de algum código genético interno, como o das baratas, das lacraias e das mocréias. O homem fabrica armas que têm como único objetivo matar outros homens. E transforma suas criações mais formidáveis, como aviões, em mísseis recheados de gente muito mais eficientes que ogivas nucleares.
     A estupidez, e não a criatividade ou a inteligência, é a característica mais marcante da nossa espécie, é pela estupidez que seremos lembrados pelas baratas daqui a alguns milhões de anos. E o 11 de setembro de 2001 será emblemático, o dia em que o homem a exerceu com esplendor.
     Eu e as baratas passamos o dia anteontem colados na TV, vendo nossa estupidez transformada em espetáculo de mídia. Nada mais formidável, cardápio para todos os gostos. Para aqueles que defendem o troco imediato, com a mesma violência e insanidade, e para os que acreditam que, finalmente, a arrogância do poder econômico e político recebeu sua lição, sentiu na pele o que é ter medo, o mesmo medo disseminado pela força ao longo dos anos.
     Aqueles que admiram a superioridade imposta por nossos vizinhos do norte ao resto da humanidade no último século, que se sentem incomodados pelas nações que não tiveram a competência de construir suas disneylândias e não jogam basquete direito, estão radiantes. É a hora de provar de uma vez por todas quem manda no galinheiro.
      Estes devem ter adorado a figura patética do presidente caubói garantindo a vingança com discurso hollywoodiano, “não se enganem, já vencemos outros inimigos antes, vamos vencer de novo”, um Forrest Gump mal-acabado defendendo ideais de liberdade, democracia e justiça nos quais só quem nunca esteve nos EUA pode acreditar.
(Basta meia hora em território americano para perceber a falácia dos tais ideais. Que liberdade existe num país vigiado por câmeras e satélites, onde jogar um chiclete na rua é motivo para ser detido pela SWAT? Que democracia é essa que referenda uma eleição fraudulenta e coloca na presidência um sujeito que teve menos votos que o derrotado? Que justiça é essa que faz com que esse país se ache no direito de interferir nos destinos de todos os outros exportando guerras e miséria?)
     Os EUA apanharam. Não sabem de quem, mas talvez saibam por quê. E, se não sabem, era hora de alguém se dirigir ao seu povo e admitir que se meia-dúzia de doidos foram capazes das atrocidades do 11 de setembro, é porque muito mal esse país andou fazendo a outros povos por aí para ser tão odiado. Infelizmente, o caubói não é esse alguém. Sob a sombra e o cheiro fétido de 20 mil cadáveres, o caubói estava mais preocupado, horas depois dos atentados, em garantir aos seus cidadãos que “a economia americana está aberta aos negócios como sempre”.
     Eu e as baratas nos espantamos com essa declaração. Aliás, nos espantamos também com palestinos festejando a morte de milhares de inocentes, em Beirute e Jerusalém. Ouvi alguém dizer que o que aconteceu ontem mostra que o mundo precisa de deus no coração. Discordamos, eu e as baratas. Foi o excesso de deus, assim mesmo, em minúscula, que levou as Cruzadas a dizimarem inimigos que acreditavam em outro tipo de deus, na Idade Média. Foi o excesso de deus no coração que conduziu os judeus na expulsão dos palestinos de seu território depois da Segunda Guerra. É o excesso de deus no coração que faz os árabes explodirem lanchonetes, shoppings, pizzarias, aviões e prédios pelo mundo afora.
     O que há, e nisso eu e as baratas concordamos, é um excesso de deuses nos corações dos homens. Um deles, citado pelo caubói, é o mercado, a economia, o papel verde que move as engrenagens do planeta, e que uma barata amiga confessou ter roído um dia, de um maço escondido sob o assoalho, sem saber do que se tratava — não apreciou o paladar. Em nome de deus, ou de Deus, ou das várias modalidades de deuses, matamos, explodimos, arrebentamos, crucificamos, bombardeamos, torturamos e acompanhamos tudo pela TV como se fosse um grande espetáculo, e nisso concordamos de novo, eu e as baratas, somos muito bons.
     Não há guerra boa ou paz ruim, escreveu Benjamin Franklin, curiosamente num 11 de setembro. As baratas discordam, a próxima guerra será muito boa porque sobreviveremos, me disse uma.

"As baratas são bem melhores do que nós."






segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Uma tartaruga com cauda de cobra, um dragão azul, um pássaro vermelho, um tigre branco. O que estes quatro animais têm em comum?

Para a mitologia japonesa, que teve bastante influência da mitologia chinesa, estes quatro seres são os quatro guardiões dos pontos cardeais, guardiões ou deuses, pois são chamados de “Shishin” que basicamente significa quatro deuses em japonês. E é curioso porque eles acabam sendo também uma representação de uma estação do ano.

Gembu, a tartaruga, representa o inverno. A guardiã do norte tem como sua maior virtude a sabedoria, representa também a purificação, a renovação, versatilidade. O senso comum das crenças japonesas coloca a tartaruga como um símbolo da longevidade.

Seiryu, o dragão, representa a primavera. É o guardião do leste e possui o controle das chuvas, sendo um guardião extremamente benevolente. Representa também a autoridade, força, luxúria, criatividade. Algumas lendas e tradições afirmam que Seiryu liderava os quatro guardiões.

Suzako, a ave que já assimilaram como a fênix, representa o verão. O guardião do sul também representa a fidelidade, bondade, nobreza e a força de vontade. Alguns contos afirmam que Suzako era a figura mais sagrada entre os guardiões muito em conta da sua virtude extremamente ética.

Byakko, o tigre branco, representa o outono. É o guardião do oeste é capaz de controlar os ventos, é o responsável por guardar os conhecimentos da humanidade. O tigre em si era considerado como um de deus da guerra, já o tigre branco era como uma versão mítica, que aparecia apenas quando o mundo já estava em paz novamente. Com sua capacidade de reter conhecimento, teria todas as informações necessárias para a vida reiniciar após o final do seu ciclo (outono). 

Só queria comentar o quão interessante pode ser este choque de cultura, você tem um tempinho para aprender e se espanta como as coisas podem estar relacionadas e fazendo muito sentido naquela linha de raciocínio. Como eu fui descobrir isso? Porque eu joguei Pokémon.

Disclaimer: Antes existiam três Pokémon lendários conhecidos como as forças da natureza, “os gênios”, e agora com o último jogo sendo lançado, ele veio com mais um, o trio virou quarteto e com o ótimo vídeo do @kakaCrads eu tive um ótimo ponto de partida para descobrir isso. Pode não parecer, mas cada um dos Pokémon trazem uma representatividade muito interessante, e vários deles, é claro, tem inspiração em vários deuses de várias mitologias. Se aventurar no mundo Pokémon pode ser muito mais bacana do que parece.

Forças da natureza


segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Um desabafo sobre essa parada

 Eu me questiono porque alguns se esforçam tanto para se encaixar em um padrão pré-moldado por uma parte específica da sociedade.

Isso me faz pensar no que incentiva uma pessoa a pagar 200 conto num copo destes.

Se não quer beber, não tire a água da torneira, não tire a água do seu filtro, não tire a água da geladeira.

Isso serva para o leite, para o café, para o suco, para o refrigerante, para a cerveja... para qualquer coisa que você não quer consumir e quer reservar em algum lugar.

Não precisa colocar num copo que precisa ser igual ao copo que outra pessoa que você quer ser igual tem.

Cadê a sua personalidade?

Precisa ser tão igual ao "padrão" assim?

Você se sentiria frustrado(a) em seu circulo social se não comprar uma parada destas?

Certeza que você quer fazer parte deste grupo específico de pessoas?

Ter um copo de 200 reais é tão importante assim?

Agora se você caga dinheiro, pegue outros 200 conto aí e vá no mercado, compre produtos não perecíveis para ajudar quem está passando fome. Natal sem fome, já pensou?

Um investimento melhor que ter um "porta canetas" que você vai colocar líquidos pra não colocar canetas.


É isso, me desculpa o desabafo aleatório de uma coisa que não faz o menor sentido pra mim, mas que uma parcela da sociedade se esforça muito para ser, para ter.

domingo, 20 de junho de 2021

500 mil

Você sabia que a taxa de mortalidade da COVID19 entre os mais velhos caiu absurdamente?

Não é preciso explicar muito o por quê, dos cerca de 11% dos brasileiros que já tomaram as duas doses da vacina a grande parte está entre as faixas etárias mais elevadas, entre os mais velhos.

Já entre os mais novos é diferente. Se você analisar o número de vítimas desta crise sanitária em que o país se encontra, não será difícil perceber uma crescente muito grande naquela faixa que algum tempo atrás "não era" uma preocupação tão grande.

Infelizmente, não é incomum ver o público desta faixa etária, dos 20, 30, 40 anos postando fotos nas redes sociais de festas, bares, aglomerações em que fizeram questão de participar, em locais os quais não existe protocolo algum que visa proteger a saúde de quem está lá.

A cruel "estabilidade" do número de vítimas do nosso país esconde este grande problema: o aumento bastante significativo entre os mais jovens desta faixa etária que engloba a maior parte dos trabalhadores que, inevitavelmente, entram em contato por causa do trabalho ou da irresponsabilidade, com mais pessoas e que pode ajudar com que variantes mais transmissíveis do vírus se espalhem mais rápido.

Na prática, o que quero fazer você pensar é que de um tempo pra cá você provavelmente parou de ouvir que o seu conhecido, seu amigo perdeu os pais, perdeu algum avô, algum tio distante. Agora você tem ouvido falar de conhecidos, de colegas e amigos seus que se tornaram vítimas, de pessoas mais velhas que que perderam seus filhos, seus sobrinhos, seus netos.

O Brasil é o lugar onde 12,8% das vítimas dessa pandemia morava, mais de 500 mil pessoas já perderam essa batalha graças a tudo o que não foi feito pelas autoridades responsáveis que, em vários momentos, tomaram medidas que foram contra tudo o que se recomendava e que a maior parte do mundo fazia.

Se proteja.



domingo, 6 de junho de 2021

Eu tinha um primo

Para entender o contexto deste texto, tem-se que ter em mente que eu escrevi na época das eleições de 2018 (mais precisamente em 24 de outubro de 2018) e nunca cheguei a publicar ele em nenhum lugar da internet porque é um assunto que iria deixar o lado minion da família e que eu nem tenho muito contato um tanto revoltados, mas acho que poderia mexer demais com a parte da família que importa, que sentem até hoje a falta dele

Eu tinha um primo que eu chamava de Vinicius. Lembro que quando éramos pequenos, ele me ensinou a jogar xadrez, e momentos depois eu ganhei uma partida dele. Eu nunca vou saber se ele deixou, ou se eu ganhei por mim mesmo.

Quando eu era pequeno, sempre era visto como o menino prodígio, aquele cara super inteligente, que iria ser um grande engenheiro, um cara fodão na vida. Já na quarta série, eu fui escolhido entre os 3 alunos da minha escola para fazer a prova do Rotary. Mas eu não ganhei, não tive nenhuma premiação. Mas este primo meu, ele era um ano mais novo, ele foi chamado para fazer a prova e acabou ganhando a maior premiação. E a partir deste momento, toda a família se voltou para ele, o grande gênio da família, aquele cara superinteligente, que devia obrigatoriamente saber sobre todos os assuntos. Para quem cobrava no dia a dia, pode até não parecer uma grande cobrança, mas eu já senti um pouco disso, e sei o quão pesado é este fardo. Não existem tão poucos Maciéis por aí não.

Com o passar do tempo ele continuou sua jornada, e num vestibular que fez para a UEPG, ele simplesmente bateu o recorde de pontos. Ele foi manchete em todos os jornais da cidade, estampou inúmeros banners pela cidade. Ele também decidiu fazer a prova para a UFPR, e como já era de se esperar, ele também passou. Ele foi estudar na capital, e acabou se conhecendo um pouco mais. Ele descobriu que não gostava exatamente de meninas. Mas que mal isso poderia trazer? Estas coisas simplesmente são, não existe explicação, é algo natural do homem como ser humano, como animal.

Mas infelizmente, estas coisas não são muito fáceis hoje em dia, existem muitas pessoas que não toleram que os outros pensem diferente. Eu devo ter imaginado o que ele passou, fico pensando algumas das barbáries que ele possa ter escutado por aí. Às vezes pode nem parecer algo gigantescamente grosseiro, mas não precisa ser, às vezes apenas um simples ato de discordância é o suficiente para deprimir uma pessoa. E em dado momento, ele estava com depressão. Não é fácil lutar contra a depressão, não foi fácil para seus pais, suas irmãs. Foi uma verdadeira batalha.

Lembro da última vez que eu o vi, eu estava esperando ônibus no terminal e ele me reconheceu mesmo depois de tanto tempo sem nos vermos. Ele veio me cumprimentar, saber como a minha vida estava, e contou que estava indo visitar um amigo. Eu fiquei contente por ele. Fiquei contente por saber que naquele momento ele estava bem.

Esta foi a última vez que eu vi falar dele antes da notícia de seu óbito. Eu não sei se ele não conseguiu mais batalhar contra a depressão, não sei se as cobranças em cima dele foram grandes demais, não sei se ele foi vítima de alguma hostilidade apenas por gostar de meninos. Eu só soube que o corpo dele foi encontrado num prédio ainda em construção. Simplesmente não soubemos o que realmente aconteceu. Eu sei que foi assim que nossa família perdeu uma das pessoas mais inteligentes que eu já vi nesta vida. Foi assim. E eu não consigo aceitar isso até hoje, eu não tive coragem de ir no seu velório, nem de visitar seus pais e tentar confortá-los. Eu não consegui porque eu mesmo não consegui superar isso até hoje. Ele foi vítima de algo que não deveria nunca ter existido.

Se hoje ele estivesse vivo, ele nunca iria votar num candidato que disse preferir ter um filho morto num acidente do que um filho gay. Toda a família sabe que nosso mundo seria muito melhor se ele ainda estivesse ao nosso lado.