quinta-feira, 21 de julho de 2022

"Virar Venezuela"

É meio chato que alguns ainda acreditem nisso, mas como economista acho importante explicar o porque o Brasil não corre riscos de virar uma Venezuela. Vamos lá.

Primeiramente é importante entender como a crise da Venezuela aconteceu. Você sabe como?

A Venezuela é um dos maiores exportadores de petróleo, e toda a sua economia era baseada nisso. Não existia uma segunda coisa na economia deles para ajudar. Tudo no país dependia do dinheiro que eles faziam com o petróleo, e a elasticidade do preço ou da demanda deles iria impactar muito na aquisição dos bens de consumo, os bens que a população precisava para o dia a dia. E quando eu falo em bens eu estou falando desde a importação de alimentos até roupas, eletros, etc. Quando houve uma mudança repentina no preço e demanda do petróleo que eles produzem, isso ficou insustentável. Não havia dinheiro e não havia um plano B para a economia. E assim a crise que amedronta os desinformados aconteceu.



Vamos trazer este pensamento para o Brasil. Vamos tentar traçar um paralelo. O Brasil não é um país que depende unicamente de uma coisa na economia para estar economicamente bem. Na verdade nós temos grandes espaços vazios, espaços não ocupados da nossa economia, mas temos um setor terciário muito grande e que se ele estiver bem, a economia do país ficará bem.

E ao contrário do que muita gente pensa, nestes últimos anos de governo nós chegamos mais perto da Venezuela como nunca antes tínhamos chegado antes. Desde 2019 nós vimos grandes empresas saindo do país, vimos Ford, Mercedes, Sony, LG e até varejistas como o Wall Mart saindo daqui. Quantas vezes você não escutou lá em 2018 e 2019 o termo "fuga de investidores", quando o dólar começou a subir e o nível de confiabilidade do país a cair? Tanto que em determinado momento vimos a expressão de que o "agro é o que puxa a economia do nosso país". O uso desta frase claramente mostra que tem muita coisa errada na economia interna, pois o Agronegócio brasileiro é um setor que praticamente não depende da economia brasileira, ele depende do preço das commodities que vem lá da bolsa de Chicago, e assim da cotação do dólar. E se você olha as notícias mais atualizadas, vemos que o agro está um tanto sem expectativas de grande crescimento. Imaginem se a China diminui a compra de soja do Brasil, como isso afetaria o nosso agronegócio? 

Mas voltando um pouco, por declarações do ministro da fazenda vimos que falta incentivo a muita coisa que poderia ajudar a nossa economia, que poderia ser um plano B, um plano C, um plano D. Vimos um governo que passou três anos chamando os programas de distribuição de renda de "bolsa esmola", um governo que foi eleito com uma as promessas em acabar com estes auxílios. Programas de distribuição de renda são essenciais para movimentar a economia, principalmente em localidades mais distantes. Eles dão a oportunidade a alguém que não tinha dinheiro fazer compras, e assim dará a oportunidade de alguém vender, e o vendedor precisará comprar mais produtos para vender, a indústria vai precisar produzir mais, para produzir mais a indústria vai precisar contratar mais. É uma das várias formas de fazer a roda da economia girar. Um país com uma boa política de distribuição de renda se beneficia muito disso. 


Mas vimos um governo com números de  desempregos chegando a marcas históricas, vimos um governo que alterou a forma de contabilizar o nível de desempregos para esconder a realidade, colocando na conta também os trabalhadores informais (os bicos, os "freela"). E o que vocês acham que isso quer dizer? A economia está ruim? Quando se fala que o brasileiro perdeu seu poder de compra, não estamos falando apenas de inflação, estamos falando que muita gente perdeu a sua renda e não consegue mais comprar as coisas que precisam. Além do preço da carne de um dos países que mais exportam carne pro mundo ficar bem mais caro, muita gente perdeu a renda que tinha antes, perdeu seu emprego e isso torna mais difícil que ela consiga comprar a carne. 

Ao final das contas, um país que não quer ser uma Venezuela não se vangloria apenas por um setor da economia ir bem. Um país que não quer ser uma Venezuela tem um projeto econômico que não foca apenas em ser o "quintal" do mundo, é um país que vai muito além de agricultura, pecuária e extrativismo. 


Um país que não quer ser uma Venezuela tem investimentos em diversos âmbitos, seja na indústria automobilística, têxtil, alimentícia, de bebidas, indústria química e petroquímica, um país que pensa tanto na indústria de tecnologias e também incentiva a construção civil, um país que investe na saúde e na educação para ter uma população capacitada a trabalhar em todos estes âmbitos. 

Mas não apenas neles, precisamos falar do setor que abrange o destino final de tudo isso, que posso resumir em "varejo e serviços". Tudo o que é produzido precisa ser comercializado, deve estar a venda e numa economia de vento em poupa, o nível de desemprego não é alto e os trabalhadores tem dinheiro o suficiente para ir ao comércio, e também ao setor de serviços. O setor de serviços engloba muita coisa, muita mesmo. Vai desde serviços de transporte, frete, advogados, clínicas médicas, restaurantes, comerciantes, turismo, eletricistas e encanadores, serviços de entretenimento e cultura, finanças... Tudo isso também faz parte da economia e merece a atenção do governo para que exista uma estrutura para a economia ir bem. Tudo precisa da atenção para não corrermos os mesmos riscos de que nosso país vizinho esteve exposto. 


Apenas para finalizar, um governo que se diz fazer tudo por um único setor da economia e que como comentei, é um setor que não depende do governo para sobreviver. Este governo apenas estampa que pouco se importa com os vários outros setores da economia, e que está muito mais próximo de ser uma Venezuela do que ele alega não estar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário