sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Por trás do número de focos

Hoje eu vi um post no Instagram sobre o número de focos de incêndio na Amazônia daquele que é considerado um dos economistas mais influentes do Brasil, Ricardo Amorim. Conhece ele? É aquele mesmo economista que falou com certo desdenho: "Em Cuba só tem três coisas funcionam: a segurança, a educação e a saúde". 

Agora que já refresquei a memória sobre quem é ele, quero dar uma continuação para o post dele, acrescentando novos pensamentos sobre o problema. Como ele mesmo comenta sobre o que é considerado um foco, não é preciso pensar muito que um um fogo de 30m x 1m é contado da mesma forma que um fogo de 500m x 15m. E que apenas o número de focos não quer dizer muita coisa, é impossível saber a área que eles foram capazes de devastar. Uma outra coisa que meio lógica é que se você tem um local em que o clima colabora para o surgimento dos focos de incêndio e você atua ativamente para apagar os que apareceram, logicamente você estará exposto a novos focos nas áreas em que o fogo ainda não destruiu. Agora se um único foco não tiver a devida preocupação para a contenção ele poderá destruir aquilo que outrora foram necessários outras dezenas ou centenas de focos...

E é claro que infelizmente, a cada ano que passa temos menos vegetação nativa, e por consequência temos menos chances de "bater o recorde". Pense que você tem um quintal grande e que quer cortar a grama logo após o trabalho, no primeiro dia você vai cortar e descobre logo no começo que sua extensão é curta e você consegue cortar apenas 1/4 do gramado. No segundo dia você emprestou uma extensão maior e poderia cortar todo o gramado, mas quando você estava chegando na metade choveu e você teve que parar imediatamente. No terceiro dia você não vai conseguir cortar o gramado inteiro novamente, vai conseguir cortar apenas a metade que ainda não tinha cortado nos dois dias anteriores, certo? Então é mais ou menos assim com as queimadas também, hoje é impossível que as queimadas no Maranhão atinjam algum recorde do passado, pois hoje quase que inexiste floresta Amazônica por lá. Não faz sentido alguém "se gabar" de uma queda do número de focos, o que é preciso fazer é ver o que está sendo feito para restaurar a floresta nestas regiões. 

No final das contas, para quem se preocupa com o meio ambiente os números de focos é apenas uma das métricas, para compreender melhor o que está acontecendo é importante buscar o conhecimento e a compreensão de outras métricas complementares. Se você volta no passado e tenta compreender o que aconteceu, você percebe que nunca houve mocinho nessa história, mas que pelo menos "disfarçavam" uma preocupação e procuravam tomar medidas condizentes, coisa totalmente oposta ao que encontramos hoje. Apenas fiquei incomodado com este post do economista, pois na minha graduação eu tive vários momentos em que os números eram apenas número e nem sempre eles mostravam a realidade. E em todas as vezes fui incentivado pelos meus professores a destrinchar tudo aquilo que realmente estava sendo exposto naquele momento. Neste caso, Amorim pareceu despreocupado com a falta de dados e quis mostrar um lado que não me parece ser muito bom e como eu já tinha lido em muitos lugares que o pior ano para o desmatamento da Amazônia tinha sido nos anos 90, e depois quase superamos esta marca em na década passada, queria relembrar o caso. E por algum acaso eu encontrei o gráfico abaixo no site do IMPE. Depois de um bom período de queda, a partir de 2015 os números voltaram a crescer de forma preocupante.

Gráfico do site do IMPE, clique para abrir o link.

Afinal de contas, temos que usar um passado catastrófico para melhorar o futuro, e não como desculpa para repeti-lo.